Toda criança nascida e criada no Brasil convive desde cedo com esta informação: a Amazônia é a maior floresta do planeta, o "pulmão do mundo". Este ecossistema ocupa 40% do nosso território e influencia a temperatura do lugar onde você está agora, seja lá onde estiver.
Crescemos com estas informações, mas são pouquíssimas as pessoas que realmente se interessam por um lugar que não tenha os padrões turísticos atuais: restaurantes incríveis, hotéis super confortáveis, transportes velozes e muitas lojas cosmopolitas. A Amazônia não oferece nada disso. E por isto é um lugar tão impactante.
Decidi conhecer o lugar mais disputado do planeta na sua melhor forma: exatamente como ele é. Foram 8 dias de expedição a bordo de um barco a vapor, dormindo em redes na selva ou no barco, e se alimentando de peixes pescados no Rio Negro, além de legumes e frutas absolutamente frescos e por isto mais do que orgânicos. Navegamos até 400 km a partir de Manaus, o que para uma região continental significa conhecer apenas uma pontinha de Anavilhanas, que é o maior arquipelago fluvial do mundo, com 400 ilhas.
É muito grande e nos limitamos a navegar por lá, ir de uma praia a outra, de uma selva a outra. Visitamos 2 comunidades ribeirinhas.
Partimos do porto de MANAUS, e a primeira impressão que temos da orla é de estar em Mumbai. A extrema pobreza impera em casas construídas em palafitas, a maioria abandonada por pessoas que trocaram a terra firme pela vida no Rio Negro.
Aliás, Manaus é uma cidade predominantemente fluvial. Barcos que são casas, postos de gasolina e até uma base da Prefeitura são flutuantes. Navios cargueiros de todas as partes do mundo estão ancorados no mesmo lugar onde os nativos tomam banho de sol.
Fomos guiados por Samuel, um índio da tribo Baré que foi renegado pela sua tribo ao fugir para a Europa com sua família. Samuel fala 3 idiomas, além de conhecer toda a sabedoria da floresta herdada de seus pais.
O primeiro dia amazônico começou com o encontro das águas entre RIO NEGRO e SOLIMÕES. O famoso fenômeno natural em que as águas não se misturam já valeu o dia, apesar do acúmulo de detritos que mostra o quanto o Rio Negro já está castigado. Os dias seguintes foram em ANAVILHANAS, o maior arquipélago fluvial do mundo. São aproximadamente 400 ilhas, sendo que para chegar à metade da orla de uma ilha de porte médio são necessárias 6 horas viagem em canoa.
Saímos de canoa a noite para ver os crocodilos que invadem a orla do rio com seus olhinhos vermelhos. Navegamos sempre acompanhados dos botos cor de rosa, que realmente são encantadores. Fomos de uma praia fluvial a outra, quase sempre perseguidos por arraias ou cobras coral verdadeiras.
Conhecemos comunidades ribeirinhas que podem ser consideradas pobres aos nossos olhos urbanos, mas que recebem da floresta tudo que precisam para viver perfeitamente bem. Dormimos num acampamento absolutamente selvagem, com direito a jantar com tambaqui fresco servido na folha de bananeira. Nosso guia Samuel preparou, apenas com sal na medida, um jantar que faria inveja aos melhores gourmets.
8 dias amazônicos, 8 dias suficientes para relembrar que somos seres da terra e não do concreto, e que estar em contato com a própria natureza é, atualmente, o maior de todos os luxos.
* Carla Werkhaizer é designer em Belo Horizonte e acredita que natureza e ciência são as bases para criar soluções que melhoram a vida das pessoas.
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