sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O príncipe maldito do Brasil

Matheus Berlink e Talitha Guimarães
Aproveitando o clima de comemoração da independência do Brasil é perceptível que o que ronda o imaginário da população brasileira é a cena de Dom. Pedro I à margem do rio Ipiranga, levantando sua espada e proclamado a independência. A partir daí se deu o Brasil como nos é contado e os bastidores do que aconteceu entre 1822 a 1889 sugere que passamos de monarquia a um republicanismo de forma amena. Porém, essa transição da monarquia para a república veio na forma de golpe de estado e sem a aclamação do povo.
Para ilustrar esses quase 70 anos de apagão na historiografia brasileira, aparece a figura de Pedro Augusto de Bragança Saxe e Coburgo (1866-1934), representado no livro “O príncipe maldito da historiadora” de Mary Del Priore. Apesar de ter chegado perto de ser Imperador do Brasil, Pedro Augusto ainda se mantém oculto na historiografia nacional, quase nunca sendo visto nas salas de aulas e livros didáticos.

Pedro Augusto com seus pais, Leopoldina de Bragança e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota.
Em meados da segunda metade do século XIX, Dom Pedro II vivia o drama de não ter um sucessor para o trono do império Brasileiro. D. Afonso Pedro de Bragança e Bourbon e D. Pedro Afonso de Bragança e Bourbon, seus únicos filhos homens, morreram ainda na infância. Sua filha D. Leopoldina já há havia sofrido um aborto espontâneo e a Princesa Isabel ainda não tinha herdeiros.

Quando D. Leopoldina surge grávida de Pedro Augusto, o Império é enaltecido com a grande expectativa em torno do nascimento de futuro imperador. A aparente infertilidade da Princesa Isabel elevou desde o nascimento Pedro Augusto ao status de herdeiro presuntivo, que era a pessoa provisoriamente tida como herdeira de um trono, mas que pode perder tal posição com o nascimento de um herdeiro ou de um novo herdeiro presuntivo com mais direito ao trono. E assim começou a trajetória daquele que teve toda sua infância voltada para a aprendizagem de como se tornar o Rei do Brasil.

Quando criança Pedro Augusto estudou diversas aéreas do conhecimento, futuramente se formando em engenharia. Cedo se tornou o preferido de D. Pedro II, acompanhando o avô em suas viagens, passeios pela Europa, idas ao teatro e no hobby favorito de D. Pedro II, observar as estrelas.  Dessa maneira, desde cedo ele se tornou o queridinho das cortes e monarquias espalhadas pela América e Europa.

O Predileto entre seus avós maternos (1887).
No entanto, quando completou 10 anos de idade, a Princesa Isabel deu à luz a Pedro de Alcântara, por direito o futuro rei do Brasil, já que era filho da primogênita de D. Pedro II.  A idéia de possivelmente perder o trono para seu primo começar a atormentar Pedro Augusto e com isso é criada uma pequena desavença dentro da família imperial. Justamente nesse momento surge o movimento republicano, aproveitando desse momento de fragilidade da família imperial para aplicar um golpe de estado, mudando enfim a situação política do Brasil.
D. Pedro II e Família em Petrópolis. Da esquerda para a direita: a Imperatriz, D. Antonio, a princesa Isabel, o Imperador, D. Pedro Augusto (filho da irmã da princesa Isabel, d. Leopoldina, duquesa de Saxe), D. Luís, o conde D'Eu e D. Pedro de Alcântara (príncipe do Grão-Pará). Foto de Otto Hees, a última antes do fim do Império em 1889
Com a proclamação da republica em 1889, a Família Real Brasileira foi condenada ao exílio em Paris. A imperatriz do Brasil, esposa de D. Pedro II, D. Tereza Cristina não aguentou o choque de ser expulsa do país e morreu duas semanas depois do embarque, antes mesmo de chegar em Paris. Pedro Augusto, que já tinha sinais de perturbações mentais desde o nascimento do seu primo Pedro de Alcântara, chegou a receber tratamento de Freud. Porém, o exílio de sua família logo quando este estava prestes a assumir a coroa mais os boatos que seu primo tinha assumido como Rei do Brasil, fez com o seu caso se agravassem. Pedro Augusto terminou sua vida internado em um sanatório, onde morreu aos 68 anos.
Dom Pedro Augusto (à direita) e Dom Augusto Leopoldo no exílio em Cannes, em 1890.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Amazônia, o lugar mais rico do planeta



Por do sol em Anavilhanas
Toda criança nascida e criada no Brasil convive desde cedo com esta informação: a Amazônia é a maior floresta do planeta, o "pulmão do mundo". Este ecossistema ocupa 40% do nosso território e influencia a temperatura do lugar onde você está agora, seja lá onde estiver.
O espelho dagua de Anavilhanas
O espelho dagua de Anavilhanas
Nosso barco, nossa casa amazônica
Nosso barco, nossa casa amazônica
Tronco 100x maior que eu
Do lado das árvores gigantes
Crescemos com estas informações, mas são pouquíssimas as pessoas que realmente se interessam por um lugar que não tenha os padrões turísticos atuais: restaurantes incríveis, hotéis super confortáveis, transportes velozes e muitas lojas cosmopolitas. A Amazônia não oferece nada disso. E por isto é um lugar tão impactante.
Decidi conhecer o lugar mais disputado do planeta na sua melhor forma: exatamente como ele é. Foram 8 dias de expedição a bordo de um barco a vapor, dormindo em redes na selva ou no barco, e se alimentando de peixes pescados no Rio Negro, além de legumes e frutas absolutamente frescos e por isto mais do que orgânicos. Navegamos até 400 km a partir de Manaus, o que para uma região continental significa conhecer apenas uma pontinha de Anavilhanas, que é o maior arquipelago fluvial do mundo, com 400 ilhas.
É muito grande e nos limitamos a navegar por lá, ir de uma praia a outra, de uma selva a outra. Visitamos 2 comunidades ribeirinhas.
Orla de Manaus, a Mumbai brasileira
Orla de Manaus, a Mumbai brasileira
Nossa canoa para caçar crocodilos a noite
Nossa canoa para caçar crocodilos a noite
Canoa indígena
Embarcação indígena
Partimos do porto de MANAUS, e a primeira impressão que temos da orla é de estar em Mumbai. A extrema pobreza impera em casas construídas em palafitas, a maioria abandonada por pessoas que trocaram a terra firme pela vida no Rio Negro.
Aliás, Manaus é uma cidade predominantemente fluvial. Barcos que são casas, postos de gasolina e até uma base da Prefeitura são flutuantes. Navios cargueiros de todas as partes do mundo estão ancorados no mesmo lugar onde os nativos tomam banho de sol.
Fomos guiados por Samuel, um índio da tribo Baré que foi renegado pela sua tribo ao fugir para a Europa com sua família. Samuel fala 3 idiomas, além de conhecer toda a sabedoria da floresta herdada de seus pais.
Curumins da comunidade Terra Preta
Curumins da comunidade Terra Preta
Lual em praia fluvial
Luau em praia fluvial
Noite gourmet na selva: tambaqui servido na folha de bananeira
Delicioso jantar
O primeiro dia amazônico começou com o encontro das águas entre RIO NEGRO e SOLIMÕES. O famoso fenômeno natural em que as águas não se misturam já valeu o dia, apesar do acúmulo de detritos que mostra o quanto o Rio Negro já está castigado. Os dias seguintes foram em ANAVILHANAS, o maior arquipélago fluvial do mundo. São aproximadamente 400 ilhas, sendo que para chegar à metade da orla de uma ilha de porte médio são necessárias 6 horas viagem em canoa.
Saímos de canoa a noite para ver os crocodilos que invadem a orla do rio com seus olhinhos vermelhos. Navegamos sempre acompanhados dos botos cor de rosa, que realmente são encantadores. Fomos de uma praia fluvial a outra, quase sempre perseguidos por arraias ou cobras coral verdadeiras.
Por do sol tipico amazônico
Por do sol típico amazônico
Noite gourmet na selva: tambaqui servido na folha de bananeira
Noite gourmet na selva: tambaqui servido
na folha de bananeira
Conhecemos comunidades ribeirinhas que podem ser consideradas pobres aos nossos olhos urbanos, mas que recebem da floresta tudo que precisam para viver perfeitamente bem. Dormimos num acampamento absolutamente selvagem, com direito a jantar com tambaqui fresco servido na folha de bananeira. Nosso guia Samuel preparou, apenas com sal na medida, um jantar que faria inveja aos melhores gourmets.
8 dias amazônicos, 8 dias suficientes para relembrar que somos seres da terra e não do concreto, e que estar em contato com a própria natureza é, atualmente, o maior de todos os luxos.
TOME NOTA
Escolhi viajar com uma empresa que faz turismo sustentável , o que faz toda a diferença no roteiro. Por isso conhecemos a Amazônia como ela realmente é, através da experiência de vivenciar o cotidiano típico dos nativos. Este roteiro foi montado exclusivamente para os participantes do TEDx Amazônia. Fomos à conferencia e logo depois embarcamos. Recomendo muito a AOKA. Eles são super organizados, e por trabalharem com grupos restritos, a viagem fica como se tivesse sido montada para você.
Farofa com carne de cobra, prato tipico em lanchonetes de Manaus
Farofa com carne de cobra, prato tipico
Cuidado nas lanchonetes de Manaus. Estava devorando esta farofa, até que inventei de perguntar: "Esta carne é de quê?" e recebi a resposta: "Não tá reconhecendo não? Carne de cobra." Comecei a separar a carne...
Pirarucu no mercado de Manaus
Pirarucu no mercado de Manaus
Carla Werkhaizer é designer em Belo Horizonte e acredita que natureza e ciência são as bases para criar soluções que melhoram a vida das pessoas.